Passam hoje 22 anos sobre a morte de Fernando Pereira. Para quem não sabe, Fernando Pereira é o senhor da foto. Fernando Pereira, português radicado na Holanda, era fotógrafo activista da organização
Greenpeace, e foi assassinado pelo poder político francês em 10 de Julho de 1985.
Nessa fatídica noite os serviços secretos franceses colocaram dois dispositivos explosivos no casco do "Rainbow Warrior", navio da Greenpeace. Com a explosão o fotógrafo português ficou atordoado e, quando o navio afundou, não foi capaz de sair tendo morrido afogado.
O "Rainbow Warrior" encontrava-se numa doca em Auckland, na Austrália, depois de ter realizado algumas viagens de realojamento de moradores de uma ilha no Pacífico (Rongelap), que se encontrava contaminada com radioactividade proveniente de testes nucleares efectuados pelos EUA no atol de Bikini.
O próximo destino era o Atol da Moruroa, numa acção de protesto contra as intenções do governo francês em proceder a testes nucleares. Mas isso não era visto com bons olhos pelo poder político Francês.
Nos dias que se seguiram as provas de sabotagem e assassinato apontavam claramente para a DGSE. A estratégia inicial foi a de negar. Mas perante as evidências não houve alternativa. No dia 21 de setembro já era impossível negar a verdade. O primeiro-ministro Laurent Fabius admitiu na televisão que agentes do DGSE haviam sido instruídos para neutralizar o Rainbow Warrior. Com a admissão da França, a ONU foi chamada para negociar um acordo entre os governos francês e neozelandês. A França foi obrigada a pagar NZ$ 13 milhões para a Nova Zelândia e US$ 8 milhões para o Greenpeace – dinheiro que foi utilizado para construir o Rainbow Warrior II.
A Capitã Prieur e o Major Mafart declararam-se culpados, evitando um julgamento maior e a possibilidade de mais revelações do envolvimento do governo francês. Foram sentenciados a dez anos de prisão por homicídio doloso e sete anos por incêndio criminoso. A França pressionou a Nova Zelândia para que os dois cumprissem a pena em território francês. Prieur e Mafart passaram pouco mais de dois anos detidos e retornaram livres para Paris, onde foram recebidos com honras e medalhas militares e encerraram suas carreiras.
Hoje, muitos dos acontecimentos ao redor do L’Affaire Greenpeace continuam por esclarecer. Nenhuma investigação pública foi conduzida na França. A polícia da Nova Zelândia viu negada a sua oportunidade de entrevistar os agentes do DGSE. Os culpados não foram punidos.
Marelle Pereira, uma das duas crianças de Fernando Pereira, tinha 8 anos quando o pai foi assassinado. Ela reage com raiva ao lembrar que Miterrand havia prometido ‘justiça no nível mais elevado’ para o caso e nada foi feito. No entanto, ela diz, nunca é tarde demais para a França dizer a verdade e nunca é tarde demais para a justiça.